“O Princípio da Incerteza Divino” – O Paradoxo Nosso de Cada Dia.

Sempre que eventos como terremotos, furações, enchentes, tsunamis, etc., ocorrem causando grandes tragédias, volta à tona com mais força, creio eu, a questão da onipotência e do amor de Deus X o sofrimento humano.
 
Não tenho a mínima pretensão de explicar o inexplicável, nem de escrever uma tese de mestrado ou doutorado sobre o assunto, mas acho que cabem algumas considerações, com o intuito sempre de incentivar o debate saudável de idéias. Crer é também pensar.

Concluindo antecipadamente, acho que na verdade até hoje a questão ainda não foi explicada de forma razoavelmente lógica, e creio que nunca o será.
 
O mestre Ariovaldo Ramos diz que “sofrimento é o intervalo possível e inevitável entre a aniquilação merecida e a redenção graciosa”  e você pode ler o excelente estudo dele clicando aqui : http://ariovaldoramosblog.blogspot.com/2011/01/atravessando-o-sofrimento.html .
 
Esse estudo explica, muito bem aliás, a questão do ponto de vista teológico/filosófico. Explica mas não justifica e na prática a conta ainda não fecha, e nunca fechará.
Sim o universo é um paradoxo, o ser humano é um paradoxo, paradoxo é um estado de sofrimento e se é que existe alguma explicação minimamente razoável para o sofrimento “necessário” (NÃO causado pelo homem), nós não somos e nem nunca seremos capazes de entendê-la completamente.
A grande maioria do sofrimento humano é “desnecessária” porque é causada diretamente ou pela omissão do próprio homem, como guerras, desigualdades, violência, corrupção, ganância, drogas, ignorância, fanatismo, intolerância, etc., etc., ou seja, falta de Deus (não falta de religião, frisa-se bem). Religião aliás que ao longo da história mais matou que salvou.
 
O mais difícil porém de explicar ou de entender é o restante do sofrimento, o que NÃO é causado pelo próprio homem ou que é causado pelo mero acaso.
Por isso as tragédias naturais talvez sejam o exemplo máximo desse tipo de sofrimento não causado pelo homem, seja pelo tamanho da destruição ou pela quantidade de vidas inocentes que se perdem. Vidas que não fizeram a princípio nada de errado, a não ser estar no lugar errado na hora errada. Alguns são salvos por uma fração de segundo e outros morrem também por uma fração de segundo. Quem escolhe quem vive e quem morre numa situação caótica de tragédia ? Qual é o critério de seleção ? Uma criança inocente morre e o pior dos bandidos sobrevive, por exemplo.
Não é somente em tragédias naturais que isso ocorre, enquanto Hitler matava deliberadamente milhares de homens, mulheres e crianças inocentes, ele escapou de vários atentados contra a vida dele, para citar apenas um exemplo histórico. Mas isso pode acontecer também todos os dias, toda hora em algum lugar do planeta com qualquer pessoa.
 
E mesmo todo o sofrimento que É causado pelo próprio homem, principalmente o que atinge inocentes, porque Deus permite ? Porque ele não intervém ?
Ou Ele às vezes permite e às vezes não permite ? Ou Ele às vezes intervém e às vezes não intervém ? De novo, qual é o critério de seleção para Ele permitir e/ou intervir ?
 
Porque Deus permite o sofrimento, seja ele causado ou não pelo homem, seja ele “desnecessário”  ou  “necessário” ? Ele não é onipotente ? Ele não é amor ? Ele não controla tudo ? Mas se Ele controla tudo foi Ele então quem matou a criança inocente e salvou o pior dos bandidos ! Matou os judeus e salvou Hitler ! (ainda que por um tempo).

A resposta é e eu já disse acima : Não existe explicação minimamente razoável à mente humana ! (E nunca haverá !).
 
Um sistema só pode ser totalmente explicado e/ou compreendido de fora do sistema. A única ferramenta que temos para entender o mundo é o nosso cérebro. O cérebro não pode entender completamente nem a ele mesmo, muito menos o mundo e o universo em sua infinita complexidade.
Por isso não vale a pena ficar discutindo/disputando se Deus é ou não é onipotente/onisciente ou até que ponto Ele o é, se ele controla absolutamente tudo que acontece ou até que ponto o faz, etc. Ele simplesmente É (Ele é O Grande Eu Sou) !
Ainda que o debate saudável sobre o tema seja bem vindo e possa ser produtivo de alguma forma, devemos partir do princípio que não chegaremos à conclusão definitiva nenhuma.
 
Novamente, até ao debatermos o assunto, estamos diante de um paradoxo. E paradoxos a gente não explica ou entende completamente. Depende do ponto de vista.
Nas ciências, como a física por exemplo, existem vários paradoxos como os das Teorias da Mecânica Quântica e da Relatividade onde dependendo do ponto de vista do observador, os resultados são completamente diferentes. Em alguns deles um gato por exemplo pode estar morto ou vivo, ou um irmão gêmeo pode ficar mais velho ou mais novo que o outro irmão gêmeo. Outro paradoxo é o princípio da incerteza, onde é impossível determinar a posição exata de uma partícula por exemplo pois ao tentarmos simplesmente observá-la já alteramos sua posição.
 
Foi pensando nisso que me veio a idéia de que talvez possa existir algum tipo de “princípio da incerteza divino” onde os seres humanos seriam tratados pelo Criador ora como seres super especiais, obras-primas da criação, merecedores de vantagens exclusivas por serem filhos de Adão e filhas de Eva, reis e rainhas da criação, por conta da Imago Dei, e ora seriam tratados como mais um dos outros seres comuns do planeta, como parte do planeta inclusive e sujeitos aos mesmíssimos eventos bons ou ruins como qualquer outro ser vivente.
 
Como, quando e porque o Criador agiria de uma forma ou de outra, só Deus sabe, literalmente !
 
Tudo parece ser formado de ciclos de vida que formam outros ciclos de vida que formam outros ciclos de vida, como partículas que formam átomos e moléculas que formam elementos químicos que formam seres dos reinos mineral, vegetal e animal (nós inclusive), que formam o planeta, que forma o sistema solar, que forma a Via Láctea, que forma um aglomerado de galáxias, que formam o universo conhecido.
Todos com seus próprios tempos de vida, de milésimos de segundos a bilhões de anos. 

Nada se cria, tudo se copia. Nada se perde, tudo se transforma.
 
Tempos de vida esses que só importam às próprias criaturas e não ao Criador. O tempo não faz diferença a quem é Eterno. E eterno não é algo que surgiu um dia e existirá para sempre mas sim algo que sempre existiu e sempre existirá. É eterno para trás (passado) e para frente (futuro). De menos infinito (-∞) a mais infinito (+∞).
“‘Eu sou o Alfa e o Ômega’, diz o Senhor Deus, ‘o que é, o que era e o que há de vir, o Todo-poderoso“   e  “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim”.

Nosso universo parece ser todo ele um universo de incertezas, de contradições, inconstante, relativo. Einstein provou que a única coisa constante nesse universo é a velocidade da luz e que até o que tínhamos antes como absolutamente constante e imutável, como tempo e espaço, são na verdade também relativos.
O espaço-tempo se deforma se há muita massa, que é também energia (E=mc2), e o espaço-tempo se deforma para a luz manter sua velocidade constante. Luz é energia pura e em movimento. É como se a luz fosse o próprio Criador. É como se o espaço-tempo se deformasse para o Criador passar !

Jesus que era Deus E homem (paradoxo), entre muitas outras coisas que subverteu, relativizou também até a Lei em favor da misericórdia ao impedir, por exemplo, que a mulher adúltera fosse apedrejada. É como se a Lei fosse deformada para a misericórdia passar ! A misericórdia triunfa sobre o juízo.
 
Einstein também disse certa vez que não achava que Deus jogasse dados com o universo, mas parece que Ele joga sim, acontece que os dados dEle não são os nossos dados. “‘Pois os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os meus caminhos’, declara o Senhor”.
Ele usa um tipo de dado que a gente não conhece e/ou compreende muito bem.
 
Segundo a Teoria do Caos, qualquer acontecimento, por menor que seja, pode gerar conseqüências gigantescas e imprevisíveis. É o chamado “efeito borboleta” onde o simples bater de asas de uma borboleta no Brasil poderia em tese acabar causando um furacão no Japão, por exemplo.
Ou a diferença de um segundo a mais ou a menos que você sai de casa pode te livrar ou não de um acidente de carro, ou de conhecer ou não a mulher ou o homem da sua vida, por exemplo.
 
Segundo a “Lei de Murphy”, que no geral é um tanto mal entendida e que NÃO quer dizer somente que se algo pode dar errado dará errado, mas SIM que se é possível acontecer alguma coisa então é perfeitamente possível que essa coisa aconteça (óbvio).
Por exemplo, é possível que você jogue um dado 1000 vezes e em nenhuma delas dê o número 6, como também é possível que você jogue o mesmo dado outras 1000 vezes e em todas elas dêem o número 6, ainda que ambas as possibilidades sejam pouco prováveis.
O impossível mesmo seria você jogar o dado e dar o número 7, por exemplo.
 
Portanto, se o Criador fez todo o universo cíclico, relativo, caótico e probabilístico, porque Ele trataria os seres humanos, que são criaturas desse mesmo universo, de forma constante negando assim Sua própria criação cíclica, relativa, caótica e probabilística ?
 
Se a Graça é comum, a desgraça também o seria. Se todos estamos sujeitos à Graça, todos estamos sujeitos também à desgraça.

Jesus disse que “Deus faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Graça comum)  e que “Vocês pensam que aqueles dezoito que morreram, quando caiu sobre eles a torre de Siloé, eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu lhes digo que NÃO!” (desgraça comum).
 
Eclesiastes nos diz em resumo que, nada faz sentido ao homem debaixo do sol MAS Deus existe !
 
Jó nos ensina também em resumo que, ele não sabe ao certo porque sofreu, talvez Deus tenha permitido daquela vez, mas que depois de todo o sofrimento ele passou a conhecer mais a Deus, a quem antes conhecia somente de ouvir falar.
 
Paulo, entre os muitos sofrimentos que passou disse : “Pelo contrário, como servos de Deus, recomendamo-nos de todas as formas: em muita perseverança; em sofrimentos, privações e tristezas; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo”  e  “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé”.

“Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são.”

Temos muitos outros exemplos paradoxais na Bíblia, como morrer para nascer de novo, humilhado que é exaltado, religiosos “santos” condenados e ladrões e prostitutas perdoados, felizes os que choram, etc., etc., etc.

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2 respostas para “O Princípio da Incerteza Divino” – O Paradoxo Nosso de Cada Dia.

  1. MILTON MOREIRA disse:

    Paradoxo é “o oposto do que alguém pensa ser a verdade”.
    Acredito que todos nós já refletimos sobre os parodoxos que nos rodeiam.
    Recentemente assisti a uma reportagem sobre o processo de beatificação do último papa onde o mesmo é reponsabilizado por um “milagre”.
    E esses pseudo-milagres que são atribuídos a “pseudos-santos”?
    Será que DEUS se envolveria nestas curas milagrosas para dar o ‘status’ aos santos?
    Porque os milagres fora da igreja verdadeira acontecem? Quando acontecem só serve para fervilhar ainda mais a fé naquilo que contradiz a palavra de DEUS.
    Dúvidas!!!

  2. Ale Cherubino Luz disse:

    Texto denso, polêmico e que faz pensar…. mas esse dilema/paradoxo só se resolve pela fé.

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